sábado, 19 de janeiro de 2019

Entre a identidade e a estratégia


Dupla missão superada na cidade-berço. Em dois jogos que foram tudo menos fáceis, a nossa equipa conseguiu passar com distinção, apurando-se para as meias-finais da Taça de Portugal e mantendo a distância para o FC Porto no campeonato.

Terça-feira, Bruno Lage manteve o mesmo onze em relação ao jogo nos Açores, excepto na baliza, com Svilar a voltar a assumir a titularidade na Taça. A equipa do Benfica entrou muito bem no jogo da Taça de Portugal, conseguindo controlar o jogo bom bola, jogando no meio-campo adversário. Criou a primeira ocasião logo aos 2 minutos com Zivkovic a obrigar o guarda-redes vitoriano a uma defesa atenta, mas seria com alguma naturalidade que viria a inaugurar o marcador aos 14 minutos, numa jogada que costuma ser bastante aplicada em equipas como o Chelsea e o Manchester City: o defesa-central com a bola controlada no meio-campo adversário, faz um passe longo em profundidade para a área adversária, com o avançado a explorar as costas da defesa. Neste caso, Rúben Dias lançou João Félix (não é Félis, sr Bruno Prata), com este a receber primorosamente a bola, acabando por levar a melhor sobre o guarda-redes João Miguel Silva. Depois do jogo, a equipa vitoriana equilibrou o jogo, estando perto de conseguir o empate aos 19 minutos num remate ao lado de Alexandre Guedes. O jogo permaneceu bastante dividido e disputado, não havendo mais golos até ao intervalo.

Na segunda parte vimos a equipa da casa com uma postura diferente: mais agressiva, mais pressionaste, jogando no nosso meio-campo, fazendo com que o espaço entre linhas na nossa equipa fosse maior, o que nos causou bastantes dificuldades na construção de jogo. Apesar do maior ascendente da equipa de Luís Castro, este traduziu-se em apenas numa ocasião de perigo, num remate cruzado de Davidson aos 66 minutos. De modo a dar uma melhor resposta às constantes alterações de dinâmica da equipa da casa, Bruno Lage procedeu a alterações na estrutura táctica da equipa no momento defensivo, passando a defender em 4-5-1 (João Félix recuou para a linha média, deixando Seferovic sozinho na frente), conseguindo assim estancar a pressão dos vitorianos.

No final, a equipa conseguiu uma suada, mas justa vitória. Svilar esteve bastante seguro, entre e a sair dos postes. Pizzi e Zivkovic sentiram-se particularmente desconfortáveis com a pressão da equipa da casa e estiveram muito discretos, principalmente na segunda parte. Gabriel foi a meu ver, o melhor em campo pela forma como liderou o meio-campo, apesar de não ter sido muito eficaz no passe, graças ao maior espaço entre linhas da nossa equipa.

A meu ver, houve duas mudanças que se destacaram neste jogo: primeiro, os nossos defesas-centrais procuram assumir mais o jogo com bola, saindo a jogar com ela controlada. Jardel ainda se sente muito desconfortável neste papel, visto aos 32 anos (fará 33 no dia 29 de Março), está provavelmente a desempenhar estas funções pela primeira vez na carreira. Segundo, uma maior ligação entre jogadores e adeptos, que se verificou tanto no final do jogo, como no treino aberto aos adeptos no dia seguinte em Fafe.


Seguiu-se o jogo de sexta-feira, desta feita para o campeonato, com Bruno Lage a fazer cinco alterações na equipa titular em relação ao jogo da Taça, com destaque para as presenças de Samaris e Castillo no onze inicial. Já do lado vimaranense, destaque para os regressos de Tozé e de André André

Neste jogo, a equipa do Vitória voltou a entrar em campo com as linhas subidas e a procurar dominar o jogo com bola, montando uma estrutura de 3-4-3 em organização ofensiva. A equipa encarnada, na tentativa de ser mais bem sucedida na construção de jogo a partir de trás, jogou com um duplo pivot no miolo composto por Samaris e Gabriel, mas a pressão exercida pelos médios interiores do Vitória (André André e Amoah) dificultou muito a nossa tarefa. Por outro lado, a nossa equipa explorou as transições ofensivas, revelando verticalidade e objectividade, conseguindo aí duas boas ocasiões de perigo à entrada da área, por intermédio de João Félix e Pizzi.

Já a equipa da casa, apesar de a espaços conseguir jogar no nosso meio-campo, continuava a mostrar bastantes dificuldades em chegar à nossa área com a bola controlada. Com isso, as primeiras ocasiões de perigo também surgiram através de remates de meia-distância, primeiro por André André a rematar à meia volta com a bola a sair ligeiramente por cima, e depois por intermédio de Tozé após um pontapé de canto, obrigando Vlachodimos a uma grande defesa. Já perto do intervalo, o guarda-redes internacional grego voltou a ser chamado a intervir após um remate rasteiro de Alex Guedes, na única ocasião em que os vitorianos conseguiram chegar à nossa área com critério. As duas defesas de Odysseas acabaram por se mostrar decisivas.

Na segunda parte, viu-se o pior Benfica da era Bruno Lage. A equipa da casa começou a fazer uma pressão sufocante sobre a nossa equipa, impedindo-a completamente de construir jogo a partir de trás, tirando ainda partido da falta de ritmo de Conti e Samaris. No entanto, permaneciam as dificuldades em criar ocasiões de perigo. Apesar das dificuldades, a nossa equipa não se deixou levar pelo desespero de mandar chutões para a frente e numa das raras ocasiões em que conseguiu jogar no meio-campo adversário, Gabriel encontra um espaço para explorar em profundidade, para o qual faz um passe a rasgar as linhas adversárias a partir do qual André Almeida fez a assistência para Seferovic encostar. Depois do golo, a equipa da casa foi-se abaixo emocionalmente e a nossa equipa soube gerir o jogo até ao final.


Gabriel voltou a ser dono e senhor do nosso meio campo. Conti também esteve muito bem, apesar d alguns erros forçados pela pressão do adversário. Samaris entrou algo nervoso, mas acalmou com o passar do tempo, realizando uma exibição segura. Cervi passou mais tempo no chão do que a jogar à bola.

Como Bruno Lage falou numa das conferências de imprensa, não é fácil implementar uma nova identidade e modelo de jogo e ter de preparar tantos jogos ao mesmo tempo. E com isso, estes dois jogos deram-nos uma lição muito importante: nem sempre é possível jogar da forma como a equipa quer, mas mesmo quando a equipa está fora da sua zona de conforto, esta tem de mostrar competência. E nesse aspecto, a nossa equipa passou com distinção. Sobretudo, devido à lealdade de Bruno Lage na sua estratégia, que consistia em jogar com um bloco coeso no momento defensivo em vez de sair na pressão ao portador da bola, impedindo assim a criação de espaços na zona central do terreno que a equipa do Vitória de Guimarães poderia explorar. 

Dadas as circunstâncias, deve-se dizer que este resultado é injusto para a equipa de Luís Castro, que nos submeteu a dificuldades que já não víamos há algum tempo. No entanto, devo relembrar três factos: primeiro, com estas duas vitórias, o Benfica atingiu o melhor registo sempre em vitórias consecutivas contra o clube da cidade-berço com 12 vitórias;  segundo; esta equipa vimaranense já derrotou os rivais nesta época; terceiro, antes desta semana, o Vitória SC só tinha uma derrota em casa nesta época (contra o Feirense na 2ª jornada do campeonato).

Segue-se mais uma semana no Minho, desta vez em Braga com a Taça da Liga. Carrega Benfica!
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