Esta temporada ficou marcada pelo regresso do Santa Clara à Primeira Liga. Como tal, pela primeira vez em muito tempo, a equipa principal do Benfica voltou a jogar em São Miguel (a última vez tinha sido em Novembro de 2002), sendo recebida na ilha em clima de grande festa. Por isso, era uma obrigação que a equipa de Bruno Lage desse uma boa resposta a um grupo de adeptos que esperou muito tempo para os voltar a ver em acção ao vivo e a cores.
Quanto ao jogo, a equipa do Benfica apresentou-se novamente em 4-4-2, mas desta vez com Gabriel a oito e descaído para a ala direita, e com Zivkovic na ala esquerda no lugar de Cervi, mas já falarei melhor dessas mudanças. No início do jogo, a equipa mostrou algumas dificuldades em penetrar no bloco adversário, que jogava com as linhas muito juntas, sendo que o vento e a chuva também dificultavam a prática de um futebol mais apoiado. Com isso, a equipa vestida de preto e branco explorou mais as transições e as bolas longas numa fase inicial do jogo. Foi daí que resultou a primeira ocasião de perigo, num pontapé de ressaca de Seferovic por cima, e foi por aí que o Benfica marcou o primeiro golo aos 22 minutos, com André Almeida a recuperar a bola e fazer um passe longo em profundidade, onde uma má abordagem dos centrais Fábio Cardoso e César Martins permitiu a Seferovic aproveitar o espaço nas suas costas e a mostrar frieza no cara-a-cara com o guarda-redes Serginho. Estava inaugurado o marcador nos Açores.
A equipa do Santa Clara sempre mostrou bastantes dificuldades na construção de jogo, muito graças à coesão da nossa equipa, que jogava com uma estrutura defensiva em 4-4-2 clássico mais junta e com um curto espaço entre sectores. Aí, a equipa de Bruno Lage optou por controlar o jogo do adversário fechando o espaço central, de modo a não desmontar o posicionamento defensivo da equipa, criando aberturas que o adversário poderia explorar. Esta situação forçou a equipa de João Henriques a encaminhar o jogo para as alas, onde a nossa equipa já fazia uma alta pressão sobre o adversário.
A primeira parte ficaria ainda marcada pela expulsão de Fábio Cardoso por vermelho directo, num lance polémico onde o VAR entendeu que a falta do defesa-central sobre Pizzi foi feita fora da área. Devo também assinalar que o árbitro João Capela demorou sete minutos a retomar o jogo após o lance. Não é de admirar que o nosso campeonato seja aquele com menos tempo útil de jogo na Europa.
A segunda parte abriu com o segundo golo da nossa equipa por intermédio do capitão Jardel. Num pontapé de canto, Jardel apareceu por trás e balanceado, cabeceou certeiro à baliza defendida por Serginho. Depois deste golo, a equipa ganhou confiança e jogou com uma maior dinâmca e fluidez no ataque, beneficiando também da sua vantagem numérica, criando várias situações de perigo que podiam ter dilatado margem no marcador.
Como referi acima, a equipa do Santa Clara teve muitas dificuldades em explorar o espaço central devido à coesão da nossa estrutura defensiva. As únicas ocasiões em que os açorianos criaram perigo foram em lances de bola parada ou em jogadas em profundidade, explorando aí sobretudo o corredor direito através das incursões de Ukra e Pineda.
Aos 70 minutos, Bruno Lage fez a primeira substituição no jogo ao trocar Zivkovic por Salvio numa mexida que a meu ver, se deveu a um erro de leitura de jogo do treinador. Ao fazer esta substituição, Pizzi passou a ficar descaído na esquerda, com Grimaldo a tomar conta de todo o corredor, sendo que era por esse lado que a equipa do Santa Clara atacava e procurava criar perigo. Para além disso, houve várias ocasiões em que Salvio não acompanhou a equipa na pressão ao portador da bola. Não sei se isto são ainda os velhos hábitos da era Rui Vitória, ou acomodamento pela renovação de contrato, mas Bruno Lage precisa de lhe dar um puxão de orelhas.
Após essa substituição, a equipa não deixou de criar oportunidades de golo, mas revelou maior dificuldade em controlar o jogo com bola, situação que deixou a nossa equipa numa situação um pouco delicada, mas que em nada comprometeu o desfecho do jogo. Destaque ainda para a entrada de Castillo, após durante a semana este ter sido dado como certo no América do México.
Terminado o encontro, o Benfica consegue uma vitória justa e uma exibição bem conseguida. A reedição da táctica que levou o Benfica ao Tricampeonato deu outra solidez e estabilidade táctica à equipa. Gabriel foi o jogador com mais passes certos e recuperações de bola, sendo que a sua capacidade física também assume particular evidência em jogos disputados em relvados pesados. Já Pizzi descaído na ala direita, teve liberdade para flectir para espaços interiores sem grande marcação, oferecendo à equipa outra variante na construção de jogo no último terço do terreno.
É verdade que jogámos uma parte inteira contra dez jogadores e desperdiçámos muitas ocasiões, mas convém também lembrar que apesar da vantagem de dois golos, a equipa manteve a atitude em busca de mais golos e mais importante que isso, teve a dinâmica necessária de modo a chegar à área com vários elementos, coisa que não se via há muito tempo. No final, regressámos ao segundo lugar, e fomos apenas a terceira equipa nesta época a não sofrer golos do Santa Clara.
Na conferência de imprensa após o jogo, o treinador Bruno Lage voltou a fazer referência aos aspectos negativos da equipa que precisam de ser melhorados, nomeadamente os últimos 20 minutos do jogo em que a equipa perdeu algum controlo no jogo, enaltecendo também a reacção fantástica que os adeptos tiveram ao ver a equipa.
A equipa continua a mostrar sinais positivos que nos fazem acreditar em dias melhores no futuro, mas ainda há muito trabalho a fazer. Vêm aí testes mais exigentes nos próximos tempos e a equipa terá de responder a altura. Mas certamente, estamos mais perto disso do que há 10 das atrás.
Carrega Benfica!
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