sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O caminho eclético do Benfica


O Sport Liaboa e Benfica realizou a sua pior época desde 2010/2011. Pela primeira vez desde essa temporada, nenhuma equipa masculina sénior do Benfica se sagrou campeã nacional. No futebol, na época em que podíamos ter feito história, a equipa e a estrutura mostraram estar longe de estarem a altura das exigências, mas nas modalidades a final da história não foi diferente, mas cada uma com os seus motivos.

No andebol, estamos a dar continuidade ao projecto que iniciámos há uns anos atrás. No primeiro ano de Carlos Resende ao leme, a equipa mostrou pormenores muito interessantes, mas ainda faltam algumas peças para termos uma equipa realmente capaz de lutar pelo título. No basquetebol e no hóquei em patins tivemos um bom começo de época e tudo dava a entender que éramos favoritos ao título, mas acabémos por sucumbir de forma vergonhosa. As equipas de voleibol e futsal deram o seu melhor, mas acabou por ser infeliz na hora H.

É preciso perceber que existem lacunas na estrutura das modalidades. Na minha opinião, a saída do Tiago Pinto devia ter sido devidamente preparada e colmatada e a sua ausência fez-se sentir ao longo desta época. No entanto, também não é menos verdade que a estrutura das modalidades do Benfica, principalmente no sistema da contratação de jogadores atravessa um período em que precisa de ser reestruturada e actualizada.

Antes de mais, é preciso dizer que esta última época não apaga o facto desta ser uma das melhores, se não mesmo a melhor década da história do clube a nível eclético. Uma década em que chegámos a conquistar 4 campeonatos de pavilhão numa só época, em que conquistámos títulos internacionais, em que construímos equipas femininas que já dão muitas alegrias ao clube, etc.

Mas a verdade, é que este sistema já não tem a mesma eficácia. Entre 2012/2013 e 2014/2015, o Benfica conquistou oito campeonatos de pavilhão masculinos. Entre 2015/2016 e 2017/2018 conquistou apenas três, o que mostra que este sistema já não é suficiente. Na minha opinião, em vez de haver um ou dois homens que giram as cinco modalidades de pavilhão, acho que cada modalidade deveria ser gerida individualmente por um expert na respectiva modalidade.



Este sistema deixou de produzir resultados muito graças ao facto de nos últimos anos ter aparecido um clube cuja estrutura é o dinheiro. Nos últimos anos, o Sporting tem aparecido com mais dinheiro nas modalidades, que lhe permite contratar jogadores de classe mundial a receberem ordenados ao nível de um futebolista. Esta capacidade fez com que o Sporting nesta época fosse campeão nas quatro modalidades de pavilhão em que participa.

E este ano, Bruno de Carvalho pretendeu subir a parada, contratando Raúl Marín no hóquei em Patins, dois internacionais búlgaros no voleibol (a Bulgária é um dos 7 melhores países da Europa na modalidade), e mostrando intenções de contratar Ricardinho e Ortiz no futsal. Bruno de Carvalho tinha o plano muito bem delineado para as modalidades antes da sua destituição. Depois do que aconteceu em Alcochete, com a saída iminente de vários dos jogadores mais influentes da equipa de futebol, a SAD ganharia um prejuízo enorme, mas também pouparia muito dinheiro em salários. Com isso, Bruno de Carvalho pretendia pegar nesse dinheiro para investir mais nesse dinheiro, mas revalidar o título nas quatro modalidades, e também a apostar forte em três das competições europeias em que irá participar (UEFA Champions Cup no futsal, Liga Europeia no hóquei e Taça Challenge no voleibol). Tudo isto, porque Bruno de Carvalho sabia melhor que ninguém que só uma época extraordinária nas modalidades o iria salvar.

Dadas as circunstâncias, muitos benfiquistas queriam que o clube optasse pelo mesmo caminho louco e irrealista. Ao longo dos últimos anos, tenho ouvido dizer frases do tipo: "Gastamos milhões em jogadores que nunca jogam pela equipa principal. Porque não pegamos nesse dinheiro para investir a sério nas modalidades?".

As coisas não são assim tão lineares. Antes de mais, gastar dois milhões de euros num jogador de futebol não é a mesma coisa que gastar dois milhões de euros num jogador de futebol, longe disso, mas a principal questão nem está aí. A principal questão aqui é que o futebol é gerido pela SAD do Benfica, enquanto as modalidades são secções independentes, completamente alheias à SAD. Como tal, comparar os investimentos no futebol com os investimentos nas modalidades é como tentar misturar água com azeite. Aquilo que o Sporting faz é desviar dinheiro da SAD para investir fortemente nas modalidades, algo que é ilegal. E, mais tarde ou mais cedo, a "torneira" da Holdimo há-de fechar, visto que os investimentos nas modalidades não têm retorno financeiro.

No meio disto tudo, qual é o plano que o Benfica tem para as modalidades? Para os mais distraídos, a equipa nesta última temporada teve resultados fantásticos na formação em todas as modalidades. E é por aí que passa o nosso caminho. Fazer com que jovens jogadores cresçam dentro do Benfica, aprendam a viver e a sentir o nosso clube. E depois, é dosear a aposta nesse miúdos com a contratação de jogadores estrangeiros de qualidade indiscutível.

O que é que este caminho irá trazer? No imediato, é possível que a próxima época seja igual a esta, mas num prazo de 5/10 anos, teremos condições para dominar as cinco modalidades de pavilhão. Quer gostem desta política ou não, é este o caminho que o clube escolheu e nós vamos ter de o aceitar. É claro que eu quero ganhar, isso faz parte do ADN de qualquer benfiquista. Mas pessoalmente, eu não quero ganhar a qualquer custo. Não quero que o futuro do meu clube seja sacrificado em prol do sucesso imediato. Isso já foi feito no durante a presidência do João Santos e à conta disso, ficámos mais de 10 anos sem sermos campeões em cada modalidade de pavilhão.


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