Pela primeira vez na curta história da modalidade, ficamos três épocas consecutivas sem sermos campeões nacionais. Naquela que foi provavelmente a melhor final de sempre no futsal português, caímos, mas caímos de pé. No entanto, existem coisas que não podem passar impunes e que têm de ser urgentemente corrigidas, mas já lá vamos.
A época de 2016/2017 tinha sido retirada de um quadro surrealiata. Depois de termos conquistado a Taça de Portugal e a Supertaça e de não termos perdido nenhum dos quatro jogos contra o Sporting, tínhamos conseguido a proeza de sermos eliminados nas meias-finais do play-off pelo Sporting de Braga/AAUM.
Depois do final de época vergonhoso, a secção não teve mãos a medir e fez uma revolução no plantel. Vários elementos saíram, entre os quais o guarda-redes Bebé ao fim de 11 épocas de águia ao peito e o capitão Gonçalo Alves, que iria passar a ser o team manager da equipa, com a braçadeira de capitão a ser herdada por Bruno Coelho. Por outro lado, a direcção investiu fortemente no plantel, contratando vários jogadores de renome como o guarda-redes Diego Roncaglio, os futuros campeões europeus André Coelho e Tiago Brito, o internacional espanhol Raúl Campos e o pivot brasileiro Deives Moraes. Destaque também para as promoções de três jovens campeões nacionais de júniores: o guarda-redes André Correia, o fixo Afonso Jesus e o pivot Jacaré.
Com este investimento, sempre disse e continuo a dizer que em termos de qualidade individual, o nosso plantel estava ao nível do plantel do Sporting, até porque a equipa leonina tinha de deixar 3 jogadores não-formados localmente em cada jogo. Porém, a equipa do Sporting estava muito mais rodada, visto que a maioria dos seus jogadores jogavam juntos há vários anos.
Mas as mudanças não ficaram por aqui. As contratações do Benfica tambem ditaria uma alteração no sistema táctco da equipa, que na era Joel Rocha jogava quase sempre em 3-1 com um pivot fixo, mas com as chegadas de Raúl Campos e Deives, que são dos "falsos pivots" que são mais móveis e que descaem muito para as alas, a equipa passaria a jogar mais em 4-0.
Na época anterior, a forma de jogar da equipa de Joel Rocha era muito previsível e tacticamente anárquica, muito assente nas bolas longas para o pivot para este finalizar. Essa previsibilidade custou-nos a eliminação nas meias-finais do play-off, em dois jogos em que a equipa bracarense tinha estudado a nossa equipa ao pormenor. Nesta temporada, a equipa apresentou uma maior dinâmica e fluidez de jogo mas em contrapartida, também houve momentos do jogo em que sentiu a falta de uma referência fixa na área, mas explicarei melhor essa questão mais adiante.
O modelo de jogo as equipa estava assente em dois quartetos de campo: o quarteto A, aquele que normalmente iniciava os jogos, composto por Fábio Cecílio, Bruno Coelho, Robinho e Deives; e o quarteto B composto por André Coelho, Tiago Brito, Rafael Henmi/Fernandinho e Raúl Campos; havendo ainda outros jogadores a entrar na rotação tais como Miguel Ângelo, Bruno Pinto e Afonso Jesus. Jogue quem jogasse, não havia grandes oscilações no rendimento da equipa ao longo de um jogo, o que mostrava bem a qualidade e profundidade do plantel.
No dia 2 de Setembro deu-se o jogo da Supertaça, onde como seria de esperar, a diuferença de entrosamento entre ambas as equipas faria a diferença com os leões a vencerem por 3-2, num jogo em que a nossa equipa ainda não pode contar com o guarda-redes Roncaglio pelo facto do Kairat Almaty se ter atrasado na emissão do seu certificado internacional.
Já com o campeonato a decorrer, teríamos mais dois confrontos com a equipa leonina, sendo que esta levaria novamente a melhor em ambos. Como se não bastasse, pelo meio Chaguinha lesionou-se com gravidade, não podendo dar o seu contributo à equipa durante vários meses.
Entretanto, a equipa foi crescendo à medida que a competição avançava. Aos poucos, fui mostrando aquela atitude e aquela entrega que caracterizou a primeira época de Joel Rocha no Benfica, o que me foi fazendo acreditar que este ano era possível quebrar o ciclo vitorioso leonino. Em Janeiro chegou o reforço internacional brasileiro Fernandinho. O ala de 34 anos acabara de se sagrar campeão brasileiro pelo Joinville e chegara a tempo de acompanhar a equipa no ponto alto da época: a conquista da Taça da Liga com uma vitória por 5-2 e uma exibição irrepreensível contra o Sporting. Este podia ser o ponto de viragem da época.
Seguiu-se o Campeonato da Europa na Eslovénia com quatro jogadores nossos a serem coroados com o titulo europeu, e mais de um mês depois o campeonato retomava com chave d'ouro: um derby no Pavilhão da Luz, num jogo onde os leões foram felizes e que acabaria com empate a duas bolas, ficando assim o 1º lugar da Fase Regular entregue ao Sporting CP.
Após o término da Fase Regular, chegou a Final 8 da Taça de Portugal. Nos quartos-de-final, tivemos uma vitória difícil contra o CCDR Burinhosa, num jogo marcado pela polémica expulsão de André Coelho; seguiu-se a meia-final contra o Sporting CP, num jogo onde a felicidade voltou a não estar do nosso lado com a lesão de Roncaglio e nova derrota por 4-2.
Com isto, focava-mo-nos definitivamente no campeonato, com os play-off pela frente. Depois de eliminar o Quinta dos Lombos nos quartos-de-final e o SC Braga/AAUM nas meias-finais, seguiu-se mais uma final contra o Sporting. Tal como se sucedeu no voleibol, não ganhou a melhor equipa da final, mas sim a melhor equipa da Fase Regular, tendo inclusive acontecido o feito inédito da equipa campeã ter ganho menos jogos no tempo regulamentar. Apesar disso, alguns erros e decisões técnicas também marcaram esta final para o nosso lado e ninguém pode ficar indiferente a isso. Vamos para uma análise individual a alguns dos jogadores:
André Coelho e Tiago Brito - eram dois antigos desejos meus. No futsal sempre achei muito importante que a equipa tivesse o máximo de jogadores possíveis da selecção nacional e com a chegada destes dois jogadores vindos de Braga o lote aumentou para cinco. André Coelho é um fixo puro que deu uma estabilidade defensiva que já não se via há algum tempo, para além da sua capacidade física ser essencial para fazer pressão alta sobre o adversário e de possuir um potente remate. Tiago Brito tem um pé esquerdo de excelência, um dos melhores do nosso campeonato que deu profundidade à nossa equipa;
Raúl Campos - o ala/pivot internacional espanhol foi uma das armas que o Benfica contratou para atacar as balizas adversárias. Teve um início de época discreto, com apenas 2 golos marcados nas primeiras seis jornadas (ambos ao Fabril), mas depois de se adaptar tornou-se numa das principais armas ofensivas da nossa equipa, sendo um dos jogadores em melhor forma no play-off, tendo marcado nos cinco jogos da final;
Robinho - foi o reforço que deixou os adeptos mais entusiasmados. Também teve um início de época algo discreto, visto que os seus novos colegas tinham de se habituar à sua forma de jogar. Mas assim que a equipa começou a ficar entrosada ele tornou-se no joker da equipa, no jogador que pode desbloquear um jogo com um simples gesto técnico. É daqueles jogadores que por si só vale o bilhete para o jogo;
Deives Moraes - chegou rotulado de goleador e rapidamente mostrou os dotes. Compensava a sua baixa estatura para um pivot com um grande sentido de oportunismo, sendo um jogador bastante perigoso nos nas segundas bolas. Marcou 26 golos na Fase Regular mas infelizmente, decaiu de forma no play-off, marcando apenas um golo.
Guarda-redes - a gestão dos guarda-redes revelou-se bastante incoerente ao longo da época. Foi contratado o brasileiro Diego Roncaglio ao Kairat Almaty, que rapidamente se assumiu como uma mais-valia devido à sua presença entre os postes e à sua habilidade a jogar com os pés. Como alternativas estavam os jovens Cristiano e André Correia. Roncaglio teve algumas lesões e castigos ao longo da época, mas quando esteve disponível, jogou os 40 minutos em quase todos os jogos, mesmo em jogos contra equipas do fundo da tabela e/ou em jogos que ganhávamos confortavelmente. Uma expulsão completamente irresponsável afastou-o dos três primeiros jogos da final, com Cristiano a assumir a baliza, sendo que o jovem de 21 anos também seria opção no 4º jogo, com Roncaglio já disponível. Até a este final, Cristiano tinha-se saído muito bem nas poucas oportunidades que teve, mas acabaria por ser apontado pelos adeptos como um dos principais responsáveis pela perda desta final. Eu não entro nesse lote de adeptos, mas não posso deixar de achar que ele acusou o peso da responsabilidade no 4º jogo. Como tal, acho que deveria rodar para jogar com mais regularidade e ganhar calo.
Joel Rocha - sempre disse desde o início da época que se não fossemos campeões este ano, seria o fim da linha para ele. E a verdade é que a sua prestação não foi vergonhosa como foram as de Pedro Nunes e de José Ricardo. No entanto, o acumular de insucessos e algumas decisões técnicas tomadas por si esgotaram o seu crédito de vez.
Deverão ser feitas poucas mexidas no plantel. Entre os reforços já anunciados, acho que a chegada do pivot brasileiro Fits será particularmente importante, porque sendo ele um pivot fixo na área, irá conferir à nossa equipa um modelo de jogo mais variável. Falarei melhor dos reforços ña antevisão da nova época.
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