A pré-temporada acabou e os jogos oficiais estão prestes a começar. E há notas que devem ser tiradas. E Benfica mexeu-se com tempo no mercado, colmatando algumas das lacunas no plantel. Temos mais profundidade na defesa com Conti, Lema e Yuri Ribeiro; e no meio-campo com Gedson Fernandes e Alfa Semedo. Vlachodimos também parece dar garantias na baliza, mas ainda é cedo para concluir se será um guarda-redes que garante pontos. Castillo deixou impressões positivas e Ferreyra foi assolado por alguns problemas físicos. Ambos ainda estão a adaptar-se à nossa equipa.
A chegada de jogadores como Lema, Gedson, Alfa Semedo e Castillo também deram mais capacidade/física à equipa do que nas últimas duas épocas. Mas ainda estamos a uns furos abaixo da equipa do FC Porto nesse aspecto. A chegada de um box-to-box iria ajudar muito...
Antes de mais, devo dizer que eu sou do tempo em que o Benfica dos Torneios do Guadiana para matar a fome de títulos. Por isso, o facto do Benfica ganhar ou não troféus na pré-época é-me completamente irrelevante. Em termos de resultados, esta terá sido a melhor pré-temporada do Benfica na era Rui Vitória. Em termos de processo de jogo, também é melhorias em relação à época passada, com a equipa a mostrar sinais positivos, tanto em 4-3-3 como em 4-4-2.
No entanto, esta pré-temporada também me fez perceber que existe um problema que persiste desde o início e que irá sempre perdurar enquanto Rui Vitória estiver no Benfica. É assim: o modelo de jogo de Rui Vitória está muito assente nos aspectos defensivos: a pressão alta sobre o adversário, a linha defensiva subida, o espaço entre linhas, a reacção à perda de bola, a circulação de bola de forma apoiada desde a zona defensiva até à zona de criação.
O problema é que Rui Vitória não treina um modelo de jogo ofensivo. Rui Vitória deixa a manobra ofensiva da equipa entregue à qualidade individual dos seus executantes (principalmente dos extremos) e espera que se faça magia. Isto pode resultar problemas em vários jogos. Em jogos contra equipas que jogam mais fechadas na defesa, pode originar dificuldades em chegar com critério à área contrária, fazendo com que muitas vezes, a solução acaba por ser o chutão para a frente. Em jogos contra equipas grandes ou na Champions, a equipa até pode chegar várias vezes à área contrária, mas na maioria delas, irá mostrar pouca clarividência, seja na tomada de decisão, ou a finalizar.
Outra questão aqui é que se Rui Vitória teima tanto em canalizar a manobra ofensiva da equipa nos extremos, é necessário um extremo completo, que seja desequilibrador (tanto pela ala, como flectindo para zonas interiores), que tinha boa visão de jogo, que seja bom a finalizar e que seja forte física e/ou mentalmente. Nós não temos nenhum extremo na equipa principal que cumpra todos esses requisitos. Cervi é muito fraquinho fisicamente. Salvio toma muitas más decisões. Rafa e Zivkovic são os que estão mais perto disso, mas são fracos a finalizar. Carrillo até poderia ser esse extremo completo, mas para isso precisava de um cérebro. O único extremo completo sénior que temos é João Filipe.
Outra teima de Rui Vitória é a sua insistência em lateralizar o jogo, principalmente quando joga em 4-3-3, onde na época passada se viu a equipa explorar muito as triangulações entre Grimaldo, Cervi e Krovinovic/Zivkovic. E nesta temporada ficou mostrado que o jogo interior neste 4-3-3 é praticamente nulo. Isto porque quando a equipa começa a construir jogo a partir de trás, Pizzi e Gesdon Fernandes (os dois médios mais adiantados) recuam até ao seu meio-campo defensivo para receberem a bola, passando-a depois para os extremos, o que origina um grande buraco entre o meio-campo e o ataque.
Quem deveria receber a bola nessa zona do terreno deveria ser o trinco e os laterais, com Pizzi e Gedson a criarem linhas de passe em zonas mais adiantados do terreno de jogo, de modo a depois poderem fazer combinações com os extremos (que exploram as zonas interiores do terreno) e os laterais (que ficam encarregues de todo o seu corredor, dando profundidade à equipa). É assim que um 4-3-3 funciona no futebol moderno.
Na defesa também ainda residem alguns problemas, nomeadamente na linha média da equipa que fica sempre desajustada com a linha defensiva, muito graças à pouca disponibilidade defensiva de jogadores como Pizzi e Gedson. Uma linha média desajustada e afastada da linha defensiva é meio caminho andado para os avançados adversários criarem linhas de passe nas suas costas e ao receberem a bola, terem apenas a defesa para enfrentar. Essa situação está melhor explicada aqui:
https://www.lateralesquerdo.com/2018/08/01/no-mar-a-deriva/
https://www.lateralesquerdo.com/2018/08/02/linha-media-do-benfica-a-nao-defender/
Resumindo, estes problemas fazem de Rui Vitória um treinador curto e limitado para o Benfica. Atenção! Eu não estou a dizer que não possamos ser campeões nem chegar à Fase de Grupos da Champions. Já conquistámos 6 títulos a jogar desta forma, e nada garante que não ganhemos mais. No entanto, estes problemas deixam uma coisa bem clara: ganhe os títulos que ganhar, Rui Vitória irá sempre deixar a impressão de que a equipa poderia jogar muito melhor.
Venham de lá os jogos oficiais!
0 comentários:
Enviar um comentário