sábado, 23 de junho de 2018

Análise da época - Basquetebol 2017/2018


Dia 6 de Junho, a temporada da nossa equipa de basquetebol terminou de forma precoce. E devo dizer que esta temporada da equipa de basket desiludiu-me profundamente. Pala primeira vez em 10 anos, falhámos o apuramento para a final do play-off. A forma como iniciámos a época, bem como o clube se movimentou no mercado, em nada fazia prever um desfecho destes. Ainda para mais, quando esta é a única modalidade de pavilhão em que não há rivais a fazerem investimentos astronómicos nem a terem direito a certos privilégios.

Devo dizer que este campeonato foi o mais competitivo dos últimos anos. Porém, mesmo assim acho que o nosso plantel era claramente o melhor. O plantel do FC Porto era mais fraco que o da época passada: dos jogadores portugueses, o Pedro Pinto e o Miguel Queirós são os únicos que se aproveitam; dos jogadores estrangeiros, só o Will Shehhey e o Sasa Borovnjak fazem realmente a diferença. Já a UD Oliveirense mostrou ter uma equipa coesa, equilibrada e bem orientada por Norberto Alves, mas em termos de qualidade individual, o plantel deles não me parecia ser superior ao nosso.

A época começou bem com a conquista da Supertaça contra o CAB Madeira. Nas competições europeias, fomos eliminados na 2ª pré-eliminatória da Basketball Champions League pelos búlgaros do Lukoil Academic, caindo assim para a Fase de Grupos da FIBA Europe Cup, onde caiu num dos grupos mais complicados da competição, com um clube russo e outro lituano e acabaríamos por ficar no último lugar com apenas uma vitória em seis jogos.

Entretanto no campeonato, a nossa equipa cedo conquistou a liderança isolada na Fase Regular e apesar de alguns deslizes, ia praticando um basquetebol de qualidade, que culminou com a conquista da Taça da Liga com uma vitória categórica sobre a UD Oliveirense. A saída repentina de Antyane Robinson e a grave lesão de Jesse Sanders acabariam por ser o início do precipício.

Primeiro, deu-se a derrota humilhante na final da Taça de Portugal para o Illiabum e posteriormente, a perda da liderança da Fase Regular para a UD Oliveirense, que vinha a denotar um crescimento de forma notável. Nos quartos-de-final do play-off, tivemos duas vitórias suadas em casa contra o Galitos, em dois jogos em que a nossa equipa acabou com o credo na boca. Estes dois jogos não me deixaram um bom pronúncio para o que restava da competição.

No final confirmou-se o pior dos cenários, e há muita coisa que tem de mudar no nosso basquetebol. Apesar de considerar que este plantel era o melhor a nível nacional, acho que ainda tem muita margem para melhorar, não só para cimentar o domínio a nível interno, mas também para chegar mais longe na FIBA Europe Cup (caso lá cheguemos este ano). Para lá chegarmos, existem aspectos em que temos de melhorar muito:



1) José Ricardo
O treinador natural da Póvoa do Varzim foi a minha maior desilusão no ecletismo encarnado. Tinha muito boas impressões dele após o seu trabalho no BC Barcelos e na UD Oliveirense e quando este foi anunciado, falei que este seria a melhor opção a nível nacional para suceder Carlos Lisboa.
E de facto, não duvido que José Ricardo perceba muito de basquetebol, mas mostrou não ter a força e a estabilidade mental necessária para a dimensão e a realidade do Benfica. Quando as coisas correm mal, ele é o primeiro a perder a cabeça e transmite essa insegurança à equipa.

2) Antywane Robinson => Miroslav Todic
Antyane Robinson estava a ser o nosso melhor jogador. O extremo poste contratado ao Pau-Orthez era um jogador fundamental em todos os aspectos do jogo, a atacar e a defender. Até que uma proposta milionária da Turquia o tirou de cá. Se eu acho que o clube devia fazer um esforço para o segurar até ao final da época? Sim, acho. Mas mesmo que assim fosse, não sei se valeria a pena, visto que não é qualquer jogador (seja em que modalidade for) que é capaz de dizer não a uma proposta para jogar num clube e/ou campeonato de topo.
A questão aqui é que, visto que o clube turco pagou para contratar o Robinson, podíamos aproveitar o dinheiro para contratar um estrangeiro de um calibre acima da média para o basket português, como o FC Porto contratou Troy de Vries, base norte-americano que fez toda a diferença na conquista do título azul e branco em 2015/2016. Em vez disso, fomos buscar um jogador à reforma...
Confesso que estava com grandes expectativas quanto a Miroslav Todic. Afinal de contas, tratava-se de um jogador com experiência na Euro League e que tinha passado por alguns dos melhores campeonatos da Europa. No final, o poste sérvio-bósnio mostrou estar muito longe da condição física desejada, fazendo dele um dos maiores flops da história do basquetebol encarnado;

3) Jesse Sanders => Damier Piits
Jesse Sanders foi o base norte-americano contratado para esta temporada. Jesse Sanders destacava-se por ser um base à antiga, daqueles que gostava de pegar na bola e fazê-la circular pelo campo, pautando o ritmo de jogo da equipa. Com essas característica, o base recrutado ao basquetebol alemão meteu a equipa a jogar com uma organização e liderança que nunca tinha visto no nosso basquetebol, até que uma fractura num dedo do pé afastou-o das quadras até agora.
Para o seu lugar seria contratado Damer Piits, que representava os finlandeses do Kataja Basket, e que nesta época já tinha defrontado o FC Porto na FIBA Europe Cup. Damier Piits não é mau jogador, mas possui características muito diferentes de Sanders. Damier Pitts não é um base organizador, é um base atirador adaptado, é um jogador que gosta mais de assumir o jogo em vez de trabalhar para a equipa. E se houve jogos em que a sua iniciativa foi decisiva, também houve outros em que só resultou em penetrações mal feitas e turnovers ridículos. É um bom jogador a executar, mas péssimo a definir. Mas o mais importante no meio disto tudo, é que tendo em conta as características diferentes dos dois jogadores numa posição tão importante como a de base, isso fez com que a equipa fosse forçada a mudar a sua forma de jogar numa fase já avançada da época.
E já agora, deixo aqui outro pormenor: antes da lesão do Sanders, o Benfica tinha três derrotas no campeonato. Em Guimarães, no Dragão Caixa e em casa contra o Lusitânia. O Jesse Sanders jogou apenas na derrota no Dragão (estava castigado no jogo em Guimarães e lesionado aquando da recepção aos açoreanos);
E digo mais: caso os dois bases americanos saiam, por mim não íamos buscar nenhum americano para o seu lugar. Prefiro antes sacar o José Barbosa à UD Oliveirense e ocupar a vaga de estrangeiro com outro poste, posição onde estamos mais carenciados.

4) Carlos Morais
Carlos Morais veio para o Benfica dizendo que queria regressar à NBA (já esteve ligado aos Toronto Raptors). Depois do típico período de adaptação, o base-extremo angolano realizou uma primeira época de muito bom nível no nosso clube. Como tal, esperava-se que a segunda época fosse ainda melhor. Nada mais falso!
Há quem diga (e com razão, verdade seja dita), que Carlos Morais decidiu tirar férias este ano, mas porque o terá feito. Simples: devido ao sistema de rotação do treinador José Ricardo. No que é que este consiste?  Quando o jogador está a atravessar um pico bom num jogo em que está a fazer muitos pontos e a ajudar melhor a equipa, José Ricardo decide substituí-lo para o fazer descansar e deixar fresco para a fase decisiva do jogo.
Este sistema de rotação abalou muito a confiança do angolano, e está longe de ser o mas indicado para um clube grande. Esse sistema de rotação pode resultar num Barcelos qualquer, mas não no Benfica, muito menos em jogos grandes.



5) Nicolas dos Santos e Cláudio Fonseca
Estes dois jogadores são os postes suplentes do Benfica que entram na rotação da equipa. Com excepção destes dois jogadores, qualquer jogador do plantel do Benfica seria um craque no FC Porto. Nicolas dos Santos é um bom atirador da área dos três pontos, mas nunca vi um poste com tanta dificuldade em controlar a área pintada.
Quanto a Cláudio Fonseca, a situação é mais delicada. Nunca foi um jogador muito apreciado pelos adeptos porque, verdade seja dita, é muito limitado tecnicamente e está longe de ser um craque. No entanto, a nível de postes portugueses, é o melhor que se pode arranjar. O problema é que ele só é opção para alguns jogos, independentemente do adversário. Não sei se poderá ser devido aos problemas de saúde que o afectaram na época passada, mas se ele só é opção técnica para alguns jogos, mais valia ser despachado.
Para a posição nº 4, o ideal seria trazer o Jeremiah Wilson de volta, agora que ele já tem a nacionalidade portuguesa. Como segunda hipótese, podíamos sacar o Arnette Halmann à Oliveirense, ele que está no auge da carreira e fez formação no Benfica. Para a posição nº5, ou faziam aquilo que referi no ponto 3, ou então começávamos a apostar no Ricardo Monteiro e no Neemias Queta.

6) Estrangeiros/FIBA Europe Cup
Nas últimas quatro temporadas, o Benfica jogou na FIBA Europe Cup, a quarta competição europeia de clubes atrás da EuroLeague, a EuroCup e a Basketball Champions League. A FIBA Europe Cup é composta por duas Fases de Grupos, onde depois das quais sobram oito equipas, às quais se juntarão as oito equipas que ficaram em 3º lugar na Fase de Grupos da Basketball Champions League. De seguida, existe uma fase com elimnatórias com oitavos, quartos, meias-finais e final, todas elas disputadas a duas mãos.
Nas quatro vezes em que participou, em três delas o Benfica não passou da primeira Fase de Grupos e na única em que passou (15/16) perdeu todos os jogos na segunda fase. A FIBA Europe Cup já tem um nível avançado para os clubes portugueses, mas o Benfica se investir de forma séria e criteriosa tem condições para no mínimo, chegar à fase a eliminar.
Como pode chegar até lá? Seguindo políticas semelhantes às que seguem clubes como os Bakken Bears (Dinamarca) ou o Donar Groningen (Holanda), que são clubes que dominam os seus respectivos campeonatos em países que tal como Portugal, têm pouca expressão na modalidade. A Holanda está em 45º lugar no ranking da FIBA (26º na Europa), Portugal está em 61º (33º na Europa) e a Dinamarca está em 73º (35º na Europa). No entanto, o Donar Groningen e os Bakken Bears conseguiram nesta época chegar às meias-finais da FIBA Europe Cup.
Como poderemos seguir as suas pisadas? A meu ver, se descobríssemos onde estes clubes recrutam os seus atletas estrangeiros, poderíamos construir um plantel competitivo nestas andanças. Temos é de ter os observadores certos para tal...

7) Carlos Lisboa vs José Ricardo
O melhor basquetebolista português de sempre estava longe de ser um treinador excepcional do ponto de vista técnico-táctico. O que lhe valia muito enquanto treinador foi o estatuto que alcançou enquanto jogador, o que lhe conferia um grande respeito por parte dos jogadores. Estes olhavam para ele e pensavam: "Epá, eu não chego aos calcanhares deste tipo..". À conta disso, Carlos Lisboa sabia impor respeito ao balneário e tinha-o sempre na mão.
Já José Ricardo não foi jogador e apesar de perceber muito de basquetebol, não consegue cativar o balneário. E depois, a sua instabilidade mental e emocional também não ajuda nada. Ele é como aqueles alunos que tiram boas notas na faculdade mas que depois na vida real, não conseguem aplicar os seus conhecimentos.

8) Formação
Assim que chegou ao Benfica, José Ricardo recrutou duas das maiores promessas do basquetebol nacional: os postes Gonçalo Delgado e Neemias Queta. Estes dois jogadores fizeram a pré-temporada, juntamente com o base-extremo Rafael Lisboa (filho do lendário Carlos Lisboa) carregaram a equipa B às costas, ajudando-a a chegar à Final Four da Proliga. Para mim, podiam já começar a lançá-los aos leões. Para quem acha que ainda é cedo, aconselho-vos a irem ao youtube e colocarem "Luka Doncic" na caixa de pesquisa.
José Ricardo não tem as capacidades mentais necessárias para ser treinador da equipa principal do Benfica. No entanto, a nível da formação, é provavelmente o treinador mais habilitado em Portugal. Como tal, o que eu acho que deveria acontecer era o José Ricardo passar a ser o coordenador do basquetebol de formação do Benfica e para treinador principal, contratar um estrangeiro com currículo. e preferência, com escola na Antiga Jugoslávia ou na Antiga União Soviética.


Se o basquetebol do Benfica fizer as coisas de forma correcta, tem condições para dominar o basquetebol português nos próximos anos e chegar mais longe na Europa. Ao que tudo indica, irá haver uma revolução no plantel, visto que apenas três jogadores do plantel têm contrato (Nuno Oliveira, José Silva e João Soares). Como tal, espero que sejam feitos os acertos necessários para regressar ao topo na próxima época.
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